Arão e a Sua Diferença com Moisés | Por que Sumo Sacerdote?

No Êxodo 28, começamos a encontrar diversos textos que anunciam a elevação do status de Arão para o honroso Ministério Sacerdotal, e com ainda mais honra ao ser consagrado como כהן גדול Kohen Gadol, o Sumo Sacerdote.

Moisés é ordenado por Deus realizar vários rituais afim de providenciar a separação do seu irmão Arão, bem como a sua santificação para este ofício eterno, que se estenderia aos seus filhos, à sua descendência.

“Depois tu farás chegar a ti teu irmão Arão, e seus filhos com ele, do meio dos filhos de Israel, para me administrarem o ofício sacerdotal; a saber: Arão, Nadabe, e Abiú, Eleazar e Itamar, os filhos de Arão.” Êxodo 28:1

E se observarmos bem este trecho do texto Bíblico, também conhecido em hebraico como parashá Tetzaveh, veremos que falta uma informação crucial para a escolha de Arão e seus descentes para o Ministério do Sacerdócio.

Em que mérito Arão foi selecionado para receber esta honra? O que Arão teria feito para merecer ser proclamado Sumo Sacerdote? Nenhuma explicação é dada. Não há uma justificativa clara no texto.

Em princípio, se levarmos em conta a história de Arão e Moisés, sentimos muito mais que Moisés é quem mereceria esta honra do Sacerdócio, do que Arão. Moisés era uma homem da verdade e da justiça, e buscava a justiça a todo custo.

Moisés não se omitiu quando um dos seus irmãos Israelitas estava sendo castigado ao ponto de morte, por um detrator Egípcio. Antes, Moisés o defendeu e matou o Egípcio.

“E aconteceu naqueles dias que, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos, e atentou para as suas cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos. E olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia.” Êxodo 2:11-12

Moisés também não se furtaria ao ver as filhas de Jetro (que depois veio a ser seu genro), sendo maltratadas por pastores em Midiã:

“E o sacerdote de Midiã tinha sete filhas, as quais vieram tirar água, e encheram os bebedouros, para dar de beber ao rebanho de seu pai.
Então vieram os pastores, e expulsaram-nas dali; Moisés, porém, levantou-se e defendeu-as, e deu de beber ao rebanho.” Êxodo 2:16-17

Moisés era realmente um exemplo de homem justo e fiel, e dele o próprio Deus deu testemunho:

“Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor” Números 12:7-8

O Mérito de Arão para o Sacerdócio

Agora se observarmos a vida de Arão, veremos que ele não tinha toda a perfeição que havia em Moisés, o seu irmão mais novo.

Arão que nesta mesma passagem citada acima, tinha se atrevido a falar contra Moisés e até mesmo a usurpar o seu lugar na condição de líder de Israel.

Arão que também havia permitido e participado do horrível episódio do pecado coletivo que ficou conhecido como עגל הזהב egel hazahav – o bezerro de ouro, onde os filhos de Jacó fizerem um ídolo dourado, um bezerro, e o adoraram.

Com isso, onde estaria a qualificação de Arão para um Ministério considerado tão Santo e tão Sagrado como o do Sacerdócio Levítico?

Por mais que pareça contraditória, a resposta é que a fraqueza que o desqualifica é a mesma que o torna apto para esta elevada missão.

Para entendermos isso, temos que voltar na história do Êxodo, quando Moisés ao descer do monte Sinai após quarenta dias e quarenta noites, encontrou Arão e o povo festejando a adoração ao bezerro de ouro.

Moisés indignado, quebra as Tábuas da Lei de Deus.

“E aconteceu que, chegando Moisés ao arraial, e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se-lhe o furor, e arremessou as tábuas das suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte;” Êxodo 32:19

As Tábuas do Testemunho

O fato é que a Tradição Oral, passada de pai para filho pelos Judeus, ensina que mesmo Moisés tendo feito outras Tábuas sobre as quais Deus voltaria a escrever os Dez Mandamentos.

Ainda assim, as primeiras, que foram quebradas, não foram descartadas. Elas também teriam sido colocadas na Arca da Aliança. Esse acontecimento é muito importante para a compreensão da escolha de Arão.

Como Sumo Sacerdote, Arão só poderia entrar no lugar chamado Santo dos Santos, apenas uma vez ao ano, no יוֹם כִּפּוּר Yom Kippur, o dia do Perdão, quando deveria oferecer um sacrifício para o perdão dos pecados de si mesmo, e também de todo o povo.

E o que é o Yom Kippur? O Dia do Perdão não é um dia comum. Não é um dia de “justiça”, nem da “verdade” como costumamos entender esses atributos. Yom Kippur é um dia de Arrependimento e Perdão.

Neste dia, a verdade e a justiça nua e crua (como a de Moisés), é superada em muito pela misericórdia de Deus.

E os fragmentos das primeiras Tábuas da Lei, juntamente com as segundas Tábuas (estas inteiras) formam pares importantíssimos para se compreender a Teshuvá – o Arrependimento.

As primeiras Tábuas da Lei foram quebradas por Moisés em um ato de ira, de consequência contra o pecado.

As segundas לוחות luhot (tábuas), foram talhadas por Moisés e depois escritas pelo dedo de Deus – o resultado da interação humana com o Perdão Divino.

Era isso que Arão e seus descendentes viam quando entravam no Santo dos Santos: as Tábuas quebradas – que traziam para Arão uma mensagem única sobre arrependimento; e as Tábuas inteiras.

As Tábuas quebradas são como um coração quebrantado: cada vez que Arão entrava no Santo dos Santos, ele deveria se sentir arrependido pelo pecado da adoração ao bezerro de ouro, que levou à quebra dessas Tábuas.

Como seria diferente se Moisés é que fosse sido o escolhido para ser o Sumo Sacerdote!? Moisés, em sua “perfeição”, diria a Deus: “Perdoe o Seu povo, oh Todo Poderoso, pois ELES tem pecado!”

Já com Arão, certamente com a visão das Tábuas quebradas, ele se lembraria de si mesmo e pediria: “Perdoe-nos oh Santo dos Santos, pois EU tenho pecado, pois nós temos pecado!”

Deus escolheu Arão porque ele era o único que teria a habilidade de compreender, de entender a fraqueza e a condição de pecador, que era comum a todos os homens, e de compreender a grandeza do Perdão recebido.

Porque Deus não veio chamar os justos, os perfeitos, os santos, os aperfeiçoados. Ele veio para os “doentes”, veio chamar os pecadores ao arrependimento. Essa é a mensagem que a escolha de Arão para o Sacerdócio nos fala:

“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento. Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira:
Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.

O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!

Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado. Lucas 18:10-14

Sobre o autor |Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies, autor do livro Gênesis, o livro dos patriarcas.

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4 Comentários

  1. Sonia disse:

    Muito bom. Deus continue o abençoando.

  2. Valdoir Matos disse:

    Outro fato importante por que foi Arão escolhido para o sacerdote é porque ele participou das aflições do povo no Egito, enquanto Moises estava no palácio, um figura daquele que se compadece das nossas fraquezas, pode salvar os que por ele se chegam a Deus. Vivendo para interceder por nós.

  3. Catarine disse:

    Muito bom. Obrigada pela explicação!

  4. Danuel disse:

    Muito bom! Obrigado pela excelente explicação.
    Deus o abençoe e guarde.
    Fabiel