Qual é o Nome de Deus? Elohim, Elshadai, Adonai? – Estudo Bíblico

Moisés se apresenta com grande frustração diante de Deus, dizendo que seu retorno ao Egito apenas aumentou a miséria que os Israelitas já vinham sendo submetidos por Faraó.

Então, tornando-se Moisés ao Senhor, disse: Senhor! por que fizeste mal a este povo? por que me enviaste?

Porque desde que me apresentei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo; e de nenhuma sorte livraste o teu povo. Êxodo 5:22-23

E conforme esse diálogo se aprofunda, Deus o responde com uma proclamação solene:

Falou mais Deus a Moisés, e disse: Eu sou o Senhor [ יְהוָה YHVH ].
E eu apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso [ בְּאֵל שַׁדָּי EL SHADAY ]; mas pelo meu nome, o Senhor [ יְהוָה YHVH ], não lhes fui perfeitamente conhecido. Êxodo 6:2-3

E Deus reafirma a Moisés, que tem ouvido o choro do Seu povo e que não havia se esquecido da Sua בְּרִיתִי brit, aliança, feita com Abraão, Isaque e Jacó.

O Senhor instrui a Moisés para falar aos filhos de Israel, que brevemente eles seriam libertos da escravidão e totalmente redimidos.

Esta é uma passagem muito bonita, em que podemos ver alguns aspectos da revelação divina por meio de nomes específicos que o próprio Deus usa para si mesmo.

Aparentemente como forma de assegurar a Moisés, que Ele tinha – e tem – todo o poder para libertar o povo de Israel da escravidão do Egito.

Agora, há nesta passagem algo que constitui um fato muito curioso. Deus, em resposta às dúvidas de Moisés, começa a trazer nomes, que de certa forma, descrevem aspectos do seu poder e supremacia.

Entretanto, no meio dessas reafirmações a Moisés, Ele de forma quase que inesperada, traz à tona a qualidade de Sua divina revelação que havia feito aospatriarcas no passado.

Quais seriam as significâncias, e os ensinamentos espirituais que essas palavras trariam a Moisés neste momento crítico que ele estava passando (o sofrimento dos Israelitas havia aumentado por conta da intervenção de Moisés junto a Faraó)?

O que Deus queria dizer quando Ele diz que tinha se revelado aos patriarcas como בְּאֵל שַׁדָּי EL SHADAY – Deus Todo-Poderoso – mas não comoיְהוָה YHVH – O Senhor?

O Senhor que realiza

Em um nível superficial de entendimento, esta proclamação divina é um tanto “problemática“, pois o texto do livro anterior ao Êxodo, o Gênesis, repetidamente se refere a Deus, na era patriarcal, como יְהוָה YHVH – O Senhor.

Em duas ocasiões, Deus diretamente se revela aos patriarcas de Israel, dizendo: “Eu Sou o Senhor“:

Disse-lhe mais [A Abraão] : Eu sou o Senhor [ יְהוָה YHVH ] , que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la. Gênesis 15:7

Como, então, Deus poderia afirmar que Ele não foi conhecido pelos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) por este nome, em específico?

O que o Senhor quer nos ensinar por meio destas palavras? Quais são os significados que estão nas camadas mais profundas desta passagem bíblica?

Há uma divisão entre os comentaristas do Antigo Testamento, se esta passagem se refere ao nome de Deus – as quatro letras יְהוָה YHVH – conhecidas como o tetragrama – que não se conhece mais a sua pronúncia original.

Mas é lido hoje em dia como “Adonai” – traduzido para o português como “Senhor” – ou se a passagem se referia ao fato de que a representação deste nome não era totalmente compreendida até o tempo de Moisés.

Em todo caso, a compreensão, de Moisés, da mensagem transmitida pelo nome do Senhor deve ter sido tão poderosa que o impressionou a acreditar e continuar seguindo os mandamentos divinos.

A única explicação que a Bíblia nos dá acerca deste nome, יְהוָה YHVH, é “Eheyeh-Asher-Eheyeh” (Exodus 3:14), Eu Sou o Que Sou, porém, a melhor tradução seria “Eu Serei o Que Serei”.

A palavra יְהוָה YHVH parece ter algo a ver com a contração de אֶהְיֶה Eheyeh, que é o verbo “SER” em hebraico.

Com isso, certamente, este nome é baseado no significado do verbo “SER” ou “EXISTIR” em hebraico, o que traz o sentido de que não se trata de que seja apenas um nome, mas um verbo (uma palavra que indica uma ação, o ato de se fazer algo).

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1

Isso é muito significante, pois nas religiões pagãs do Antigo Oriente – época dos patriarcas e de Moisés – O nome de um “deus” era sempre usado não apenas para invocá-lo mas também para controlá-lo.

Os “deuses” pagãos eram sujeitos a serem controlados por mágica, magia e feitiçaria.

Conhecer o nome de um “deus” era importante porque quem o conhecia, poderia ter controle sobre ele.

E ao ouvir a veemente reclamação de Moisés, “Senhor! por que fizeste mal a este povo? por que me enviaste?” – Deus imediatamente deixa claro que ninguém tem controle sobre ELE.

ELE não tem um nome que pode ser usado em “invocações”, ou “orações mágicas“.

Deus é o que ELE é. Seu nome, na verdade, é um verbo, indica Suas ações, Sua presença, e nos fala que não há poder fora Dele. O Senhor tem a Sua própria forma de agir, no tempo em que Ele determinou pelo Seu próprio poder.

Ninguém pode controlá-lo, ou tem domínio sobre Ele. A única coisa que ELE não pode resistir é a um pedido sincero, vindo de um coração humilde e contrito!

“a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Salmos 51:17

A despeito da decepção inicial de Moisés, Deus o estava ensinando que ELE seria conhecido por suas ações, por que ELE é o Senhor que É, e que faz e que realiza:

“Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, e vos livrarei da servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos.” Êxodo 6:6

Os nomes de Deus

Moisés ainda não sabia, mas havia, e há distinções entre os títulos que Deus usava para si mesmo, quando do Seu relacionamento com o ser humano.

A maioria dos comentaristas concordam que os diferentes nomes de Deus, refletem o fenômeno de Sua revelação parcial.

É impossível ao ser humano conhecer Deus em sua totalidade. Nossa mente, humana e limitada, não alcançaria tal revelação.

Através dos títulosבְּאֵל שַׁדָּי EL SHADAY e יְהוָה YHVH (atualmente pronunciado como ADONAI), Deus revela, mesmo que de forma limitada, aspectos específicos que compõem o Seu “SER”.

Este fenômeno, da revelação parcial de Deus, não é único, pois ocorre por diversas vezes na Bíblia, refletindo as diferentes dimensões do Seu caráter.

A Tradição Oral (a Midrash), lista quatro títulos bíblicos para Deus, e explica o significado que cada um deles transmite:

“O Santo de Israel, Abençoado Seja Ele, disse a Moisés: “Você deseja saber Meu nome? Eu sou chamado de acordo com minhas ações. . . . Quando Eu julgo Minhas Criaturas, Eu sou chamado de אלהים Elohyim – O Altíssimo. Quando Eu empreendo guerra contra meus inimigos, Eu Sou chamado de צבאות Tzevaot – O Senhor dos Exércitos. Quando Eu examino os pecados do homem, Eu sou chamado de בְּאֵל שַׁדָּי EL SHADAY. E quando Eu Trago a Minha Misericórdia sobre o mundo, Eu Sou chamado de יְהוָה YHVH – Adonai.”

Há outros títulos que são usados para Deus. Nota-se que, por exemplo, quando, em tempo de provação, temos a percepção de que Deus parece estar distante de nós, Ele é chamado de HaMakom – “Deus escondido, distante da nossa visão”.

Justiça e misericórdia

Todos esses títulos, certamente trazem questionamentos. Porque essas revelações parciais são realmente necessárias?

Porque as escrituras sagradas não trazem um único título, que pudesse consistentemente representar todos esses aspectos de Deus, de uma forma unificada?

A forma mais simples de entender o fenômeno da revelação parcial de Deus ao homem é indicada, sem dúvida pelos títulos Adonai e Elohim.

Adonai יְהוָה YHVH, representa o atributo da misericórdia, enquanto que אלהים Elohyim, o atributo da justiça.

No nosso mundo, humano, justiça e misericórdia, em suas formas puras, são mutuamente excludentes. Ninguém, nenhum ser humano pode ser totalmente justo e totalmente misericordioso ao mesmo tempo.

Se você é misericordioso, automaticamente, por definição, você deixa de executar a justiça que alguém mereceria receber.

Se você for totalmente justo, então não haverá espaço para misericórdia – será justiça por justiça sendo executada. Ou se pratica a justiça, ou a misericórdia. É assim que se dá no nosso mundo material, humano.

Porém no domínio, no mundo espiritual, as coisas se dão de forma diferente. Muito embora nós não tenhamos a capacidade de entender como isso é possível, Deus é totalmente justo e totalmente misericordioso ao mesmo tempo.

Essas duas características coexistem dentro do aspecto divino, com todas as duas forças.

E para a nossa compreensão, os atributos de Deus nos são revelados parcialmente, dando até a impressão de serem independentes, pelo simples fato de que Deus é Maravilhoso demais para a nossa limitada mente.

Por isso usando diversos nomes, para revelar partes da essência de Deus, a Torá nos dá apenas algumas pistas da complexidade de um todo.

Essas “pequenas” revelações de Deus – que para nós já se constituem em visões maravilhosíssimas – apenas fortalecem os mistérios da natureza divina.

Mistério esse que não é algo abstrato, sem vida, ou apenas uma palavra vazia.

Os patriarcas não puderam conhecer o mistério de Deus de forma completa, mas nos últimos dias, Deus o tem revelado ao mundo de forma surpreendente – por meio da misericórdia viva e encarnada.

O mistério que nem Abraão, nem Isaque, nem Jacó tiveram a oportunidade de conhecer foi enviado ao mundo.

Hoje é possível conhecer o Seu nome de forma completa, pois este nome יְהוָה YHVH, um verbo, indica uma ação que representa um ato eterno de misericórdia, a intercessão junto ao Pai, que nunca cessa de ocorrer.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1

Pois toda vez que que se clama por esse nome, a misericórdia viva dispara um mecanismo que aponta para o verbo, a ação eterna, o sacrifício atemporal, que atravessa séculos e séculos, o mistério de Deus, revelado todos aqueles que creem no Seu nome.

O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos;
Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; Colossenses 1:26-27 Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Hebreus 7:24-25

Sobre o autor |Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies, autor do livro Gênesis, o livro dos patriarcas.

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