Por que Deus Mandou Construir o Tabernáculo? | Estudo Bíblico

Por que Deus mandou construir o tabernáculo? Os Israelitas estão aos pés do Monte Sinai, e um dos maiores pilares de sua herança eterna é lançado. Deus diz para Moisés:

“E me farão um santuário, e habitarei [betochan] no meio deles.” Êxodo 25:8

A construção do Mishkan, o Santuário portátil, que acompanhará os Hebreus durante a sua jornada pelo deserto, é iniciada. Ele serviria como um precursor do Beit haMikdash, a Casa Santa, o Templo que seria erguido em Jerusalém.

Se o objetivo final era a construção do Templo em Jerusalém, por que Deus ordena que os Israelitas fizessem o Tabernáculo?

Primeiramente, a Bíblia introduziu no mundo o conceito sublime da onipotência e onipresença de Deus, que pode ser encontrado e adorado em qualquer parte do mundo.

E se Deus é onipresente, porque Ele necessitaria de um “endereço espiritual”?

Não estariam os Hebreus limitando Deus, ao construírem uma “casa” para Sua habitação? De modo semelhante, Abravanel também questionou no seu comentário sobre o Tabernáculo:

Porque Deus determinaria a construção do Santuário, se Ele não pode ser corporalmente definido, ou limitado a um local específico?

Uma das abordagens da Midrash (a Tradição Oral) afirma que a ordem para a criação do Mishkan, o Tabernáculo, foi em resposta ao pecado do עגל הזהב egel hazahav, o bezerro de ouro.

O Êxodo, entretanto, traz a narrativa do Tabernáculo sete capítulos antes do episódio do bezerro de ouro.

A abordagem da tradição oral sobre o Tabernáculo, requer uma reorganização do texto, seguindo o princípio do Ein mukdam umeuchar ba’Torah – o texto bíblico não segue, necessariamente, a ordem cronológica dos acontecimentos.

Esta reordenação da narrativa, nos permite lançar nova luz sobre o simbolismo complexo do Templo e do santuário do Senhor, uma vez que o Tabernáculo não fazia parte do plano original de Deus para o seu povo.

Deus não precisava de um “Santuário feito por mãos de homem”. O ser humano, este sim é quem demonstrou precisar, por causa da sua imaturidade e inabilidade de se relacionar com o Criador.

O povo de Israel estava já sem esperança, distanciado de Deus, após pecar adorando a um bezerro feito de ouro. O Senhor, contudo, ultrapassa essa fissura profunda no relacionamento com os filhos de Jacó, para mostrá-los o caminho de volta à casa do pai.

Era necessário um intermediário. E é aqui que entra o Tabernáculo, com todas as suas simbologias do sacrifício expiatório do ungido do Senhor, trazendo uma nova oportunidade para o povo se aproximar de Deus.

Se entendidos de forma própria, vemos que cada detalhe, dos rituais e utensílios do Tabernáculo traz uma mensagem de que Deus desejava ardentemente se fazer acessível ao homem, e perdoá-lo.

O Senhor começa um processo de revelação ao homem, de como deveria corrigir os seus caminhos para chegar à perfeita comunhão com Ele, que futuramente levaria ao entendimento do Sacrifício eterno de Jesus.

E habitarei dentro deles

“E me farão um santuário [מִקְדָּ֑שׁ mikdash], e habitarei no meio deles [בְּתוֹכָֽם betochan].” Êxodo 25:8

Dois padrões linguísticos surgem, se observarmos cuidadosamente o mandamento para a construção do Mishkan, o Tabernáculo. As palavras “no meio deles” em hebraico correspondem ao termo בְּתוֹכָֽם betochan – que significa “dentro deles”.

E porque Deus afirmaria que “habitaria dentro deles”, em paralelo com a ordem para se fazer o Tabernáculo? Ainda, na ordem para erguer o Tabernáculo, Deus usa uma palavra genérica, que não significa exatamente o termo “Tabernáculo”.

Tabernáculo em hebraico é Mishkan. Mas no Êxodo 25:8 o Senhor fala de um מִקְדָּ֑שׁ mikdash – que traduzido é, um lugar santo. Porque a Bíblia usa este termo genérico “um lugar santo”?

Este é o único texto em que o Tabernáculo não é tratado por seu nome real, “Mishkan”.

Acompanhando a temática bíblica, esta passagem faz muito sentido. O Êxodo diz, “e habitarei dentro deles”, porque Deus não habitou no Tabernáculo e nem habitaria, mais tarde, no Beit haMikdash, o Templo de Salomão.

Séculos depois, na histórica consagração do Templo em Jerusalém, שלמה מונרך , Shlomo haMelech, o Rei Salomão, deixou este entendimento muito claro:

“Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado.

Ouve, pois, a súplica do teu servo, e do teu povo Israel, quando orarem neste lugar; também ouve tu no lugar da tua habitação nos céus; ouve também, e perdoa.” 1 Reis 8:27, 30

Os sentimentos de Salomão foram brilhantemente antecipados pela Bíblia, logo no início, na ordem para edificar o Tabernáculo.

O texto declara “e habitarei dentro deles”, para enfatizar que o propósito do Santuário era trazer Deus para dentro da vida do Seu povo.

Malbin vai ainda mais profundo em seu comentário, sobre a frase “e habitarei dentro deles”, quando diz que os Israelitas foram ordenados não somente a construir um Santuário físico, mas a constituir um Santuário no interior de seus próprios corpos, de ordem espiritual, dentro de suas almas.

Eles são instruídos a criar “um lugar santo”, para Deus “habitar dentro deles”, nas suas almas e nos seus corações.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo.” João 2:19-21

É semelhante o entendimento da palavra genérica מִקְדָּ֑שׁ mikdash – um lugar santo. Muitos comentaristas afirmam que este termo reflete o caráter de uma obrigação eterna.

O povo de Deus recebeu este mandamento para edificar um lugar santo, não apenas em um ponto da história, mas eternamente.

O rabino Ohr Hachaim nos ensina que o termo mikdash, um lugar santo, traz uma lição muito bonita aos nossos corações. Alguém poderia esperar que o Santuário só se tornaria santo após a sua consagração a Deus.

Entretanto, ao se referir ao Santuário, imediatamente como “um lugar santo”, a Bíblia transmite a ideia verdadeira de que o Templo é santo desde o momento em que os Israelitas começam a criá-lo.

Ou seja, o Templo é santo, desde o momento em que os Israelitas decidem obedecer à voz de Deus. A santidade é criada neste mundo quando o homem age em acordo com a vontade divina.

Quando o homem obedece a Deus, ele imediatamente é investido da santidade, pois é santificado pelo Senhor.

“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” João 15:14

Sobre o autor |Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies, autor do livro Gênesis, o livro dos patriarcas.

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7 Comentários

  1. Camila disse:

    Que estudo incrível. Gratidão. Vi a resposta de Deus nesse estudo.

  2. Uewerton disse:

    Muito bom os estudo, e me ajudou muito com o estudo que estou fazendo.

  3. miguel angelo guimaraes disse:

    o tabernáculo não é uma resposta, é o plano da Salvação de Deus revelado ao homem

  4. Jerson Vieira disse:

    Paz e graça!

    Com relação a midrash afirmar que a ordem para construir o tabernáculo foi em resposta ao pecado do bezerro de ouro, fiquei com uma dúvida…
    Como você mesmo pontua, o episódio do bezerro de ouro só ocorre no capítulo 32 do Êxodo, enquanto que a ordem para a construção do tabernáculo é dada a partir do capítulo 25.
    Em minha opinião não faz sentido dizer que a narrativa não segue a ordem cronológica, visto que o episódio do bezerro de ouro ocorre enquanto Moisés está no monte recebendo as orientações de Deus para a construção do tabernáculo. O texto do capítulo 32:1 diz: “Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte (onde ele estava recebendo as orientações de Deus para construir o tabernáculo), juntou-se o povo a Arão e disseram-me: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós…”.
    Portanto, a meu ver, a narrativa do texto está sim na sua ordem cronológica.
    Gostaria que o professor comentasse a respeito.

  5. Marcio Vieira disse:

    Maravilhoso estudo Professo Israel, espero que não se importe se eu utiliza-lo na nossa escola bíblica Dominical. A lição desse trimestre é bem apropriada.

    Que o Eterno te abençoe sempre!
    Shalom.