Não é Bom que o Homem Esteja Só | Estudo Bíblico

Deus cria todas as suas criaturas em pares – Macho e Fêmea – exceto o homem. Somente depois que Adão é criado em solidão é que Deus declara:

“Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea [eizer k’negdo, em hebraico] para ele.” Gênesis 2:18.

Deus traz os animais até Adão para que ele os dê nomes. E nesse processo, como já previsto, o homem não é capaz de encontrar uma companhia pessoal, dentro do reino animal.

A Criação de Eva

Deus, então, faz com que caia sobre Adãoum sono “pesado” e forma Eva, de uma porção do corpo de Adão, de sua costela, encerrando carne em seu lugar. Quando acorda, Adão proclama:

“Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” Gênesis 2:23-24

O primeiro homem agora toma consciência de que finalmente encontrou a companhia que tanto procurava. Esta é a mensagem que o Gênesis nos traz sobre o primeiro casamento bíblico.

Porém há questões muito mais profundas nesta passagem, que parecem estar intimamente ligadas ao sentido das palavras escolhidas por seu autor.

Há perguntas que podemos fazer, neste texto, que trazem significâncias belíssimas para o amor, a união sagrada e eterna entre dois seres.

Deus quer aqui nos ensinar algo realmente profundo, o real significado do casamento bíblico, a volta ao estado original, quando Adão e Eva formavam um só corpo, uma só carne.

não é bom que o homem esteja só

Não é bom que o homem esteja só.

Não é bom que o homem esteja só

É interessante ver que um Deus Todo Poderoso não pode chegar a percepções atrasadas. Obviamente que Deus sabe desde o princípio que o homem precisava de companhia.

Porque, então, Deus não criou Eva, ao mesmo tempo que Adão?

O termo em hebraico que Deus usa para descrever a primeira mulher, uma ajudadora idônea, [em hebraico eizer k’negdo], é também profundamente intrigante, e até mesmo auto-contraditório.

A palavra eizer significa ajuda, enquanto que k’negdo – que vem da raiz hebraica neged – significa em oposição.

Assim, por que Deus criaria uma “ajuda em oposição” a Adão? Qual mensagem estas palavras querem nos passar, no que diz respeito a parceria estabelecida entre o homem e a mulher?

E finalmente, porque Deus põe os animais diante de Adão para serem nomeados, justamente neste contexto de percepção da solidão do homem?

Deus sabe que Adão não irá encontrar companhia no reino animal. O que Ele quer que aprendamos com isso, qual seria então o propósito deste exercício?

Ambos numa só carne

Há numerosas abordagens sobre o isolamento original do homem.

Diversos autores já se debruçaram sobre essa matéria, mas um dos estudos dos que mais possuem autoridade sobre o assunto afirma, como diz o Talmude, que Deus originalmente criou o homem d’yo partzuf panim, “com duas faces”.

Isto é, Eva estava desde o princípio, dentro de Adão, aguardando o momento de ser formada. Quando Deus cria Eva, Ele efetivamente separa dois seres, que originalmente eram apenas um.

Isso nos leva a uma ideia profunda, extraída daquilo que parece ser uma simples história:

Adão e Eva eram, em sua forma original, apenas um. Quando eles se reúnem e se casam, eles retornam ao seu estado original, se unificando novamente, voltando a ser “uma só carne”.

Todo casamento, toda união entre homem e mulher, deste ponto de vista, é efetivamente um retorno ao significado original da vida.

casamento evangélico

As Bençãos do Senhor Estão Presentes no Casamento.

Para o homem não se achava companhia

Outra fascinante lição moral extraída pela Mishna (a parte mais antiga da tradição oral), aborda a solidão original do homem.

O modo da criação de Adão pode ser entendido como um processo educacional sobre ele mesmo e sobre sua forma de se relacionar com os outros.

“E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea.” Gênesis 2:20

Diferente das outras criaturas, o homem precisa aprender o valor da companhia e da verdadeira amizade.

Isto porque a qualidade da companhia humana se diferencia de todos os tipos de relacionamentos estabelecidos no mundo ao redor de nós. Nossos relacionamentos têm possibilidades de um aprofundamento sem paralelos.

Nós temos a habilidade de transcender o apego puramente físico e ir para além, estabelecendo verdadeiras ligações emocionais, que podem enriquecer e transformar as nossas vidas.

Há uma ressalva, porém, de que o estabelecimento dessas ligações é baseado no aprendizado, no sacrifício e no assumir riscos.

Primeiramente, os relacionamentos humanos são baseados no compartilhar, e compartilhar não se torna em prática de uma forma fácil ou natural. Uma criança tem que ser ensinada a compartilhar, a abrir mão um pouquinho do seu espaço e do seu “Eu”.

E o mais difícil é a vulnerabilidade inerente à proximidade do contato humano. Quanto mais próximos nos tornamos uns dos outros, maior se torna o potencial para conflitos.

Ninguém pode nos ferir tão profundamente como aqueles que são próximos de nós, e que nos conhecem bem.

Deus cria Adão sozinho, porque ele precisava entender que a solidão não era boa. Ele precisava sentir o vazio causado por seu isolamento.

Somente com o sentimento desse vazio, é que Adão pode aprender a necessidade do compartilhar com o outro.

Adão tem que aprender que a escolha do relacionamento humano, com todas as suas consequências e conflitos e sacrifícios, é melhor do que uma vida de solidão e isolamento.

Deus, assim, traz os animais para que o homem os desse nomes. Nomeá-los requeria uma maior compreensão da natureza intrínseca dos seres. Adão vê que cada animal tem sua companhia correspondente.

Ele também percebe que o tipo de relacionamento que via no reino animal, não era adequado para preencher as suas necessidades.

Adão está buscando por algo muito maior e muito mais profundo. Somente quando Adão chega a este nível de entendimento e percepção, é que Deus procede com a criação de Eva.

A narrativa da criação de Adão e Eva se firma como uma lição monumental concernente à proximidade das relações humanas.

Quando entendemos e estamos dispostos a aceitar o trabalho e o sacrifício necessário ao estabelecimento de um profundo relacionamento.

Quando criamos relacionamentos baseados na confiança mútua, aí que atingimos o tipo de companhia que é única para a espécie humana: A santidade do casamento.

Eva, uma ajudadora idônea

É interessante também analisar a contradição implícita da frase Ajudadora Idônea – eizer k’negdo, ajuda em oposição.

Uma das abordagens para eizer k’negdo, sugere, se nós seguirmos a interpretação do significado simples e literal, que esta é uma, de muitas frases que no Gênesis parecem contraditórias.

Mas que quando propriamente entendidas, refletem significantes pensamentos filosóficos e reais. Não se trata de submissão no casamento.

A frase, tomada como um todo, brilhantemente reflete o delicado equilíbrio que é essencial a um casamento saudável.

No casamento, cada parte deve permanecer em íntima comunhão, entretanto, não se pode perder a individualidade que é essencial a cada ser.

Marido e mulher tem que aprender a assistir e ajudar um ao outro de forma cooperativa, mas sem um se sobrepor ao outro.

Uma “eizer k’negdo”, “ajuda em oposição”, é aquela que tem uma visão de uma perspectiva oposta, mas que vem para colaborar.

É sempre muito ajudador ter uma perspectiva diferente das coisas. E o casal tem que aprender a aproveitar esta percepção “oposta” que cada um pode ter do mesmo tema, para poder formar uma opinião comum, não unânime.

Mas que mostre que há mais de uma forma de se fazer a mesma coisa, que “há mais de um caminho para se chegar até determinado lugar”.

Essa visão dualista, de duas perspectivas diferentes que um casal pode ter, é uma arma poderosíssima, uma ajuda sem precedentes se for compreendida e aproveitada.

Deus fez a mulher não para concordar cegamente com o homem, mas para contribuir para o bem da relação, fornecendo uma visão de uma perspectiva “oposta” das coisas, como fonte de mais de uma interpretação do mundo, uma visão de outro “ângulo”.

O Rabino Rashi, imediatamente notou que a observação da tradição oral, para estas duas palavras, pode encerrar também duas escolhas. As palavras eizer (ajuda) e k’negdo (oposição) podem ser mutuamente exclusivas.

Quando o homem e a mulher tem sucesso em construir um casamento, eles vivem em um mundo de eizer, de ajuda mútua. Por outro lado, se eles falham, então viverão em um mundo de k’negdo, de oposição.

Este mesmo sentimento está presente nos ensinamentos do Antigo Testamento, para as palavras ish, “homem” e isha, “mulher”.

Na escrita em hebraico, estas duas palavras diferem uma da outra por apenas duas letras: um yod י e um hei ה, letras que usamos para escrever o nome de Deus.

Isto sugere que quando Deus está presente em um casamento, o homem e a mulher também estão.

Mas se retirarmos de ish e isha as letras do nome de Deus, fica restando uma combinação (as letras aleph e shin) onde lemos a palavra aish אש (incêndio).

Quando Deus não está presente em uma relação, ela se torna potencialmente explosiva.

Duas simples e aparentemente palavras contraditórias, faladas por Deus para descrever o primeiro casamento, se aplicam para resumir o delicado equilíbrio que se encontra em casamentos saudáveis.

Enquanto que muitas pessoas buscam cada vez mais envolvimentos superficiais, o casamento fala de relacionamentos profundos, que só podem ocorrer quando Deus é este fator muito forte de equilíbrio entre homem e mulher.

Sobre o autor |Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies, autor do livro Gênesis, o livro dos patriarcas.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

1 Comentário

  1. ALINE APDA S SILVA disse:

    É UM SÓ DEUS.. O ESPÍRITO SANTO DADO A ELA… É ELE QUE ESTAVA DENTRO DO HOMEM… E AO SER RETIRADO. O HOMEM PERDEU O ENTENDIMENTO.. PERDEU O DOM DA DIVINA VONTADE