Em meio à instabilidade e fortes emoções, causadas pela escravidão dos filhos de Jacó no Egito, nasce uma criança. Era aproximadamente 1250 antes do nascimento de Jesus Cristo, e ao mandamento divino, ele lideraria os Israelitas em rumo à redenção e a criação de uma nação sacerdotal.
Mas a Bíblia anuncia a chegada desta criança, Moisés, da seguinte forma:
“E foi um homem (וַיֵּלֶךְ vayeilech) da casa de Levi e casou com uma filha de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho;” Êxodo 2:1-2
uma sentença um tanto intrigante, e que levanta a questão: Por que o texto oculta os nomes dos pais de Moisés, Anrão e Joquebede, para somente revelá-los mais tarde?
Trabalhando no domínio do sentido literal do texto, Ibn Ezra, um importante escritor da idade média, sugere que no tempo de Anrão e Joquebede os Israelitas viviam em muitas cidades do Egito.
O texto estaria apenas nos informando que Anrão veio de uma cidade para outra, afim de se casar com Joquebede.
Já o rabino Rambam discorda da explicação de Ezra, afirmando a Bíblia não teria um motivo particular para nos informar da jornada tomada por Anrão de uma cidade a outra.
Rambam explica que o anúncio do nascimento de Moisés é consistente com o estilo linguístico de toda a Bíblia.
O verbo hebraico lalechet, “ir”, é frequentemente usado quando alguém se prepara para tomar novas e difíceis decisões.
Afirmando “וַיֵּלֶךְ אִישׁ Vayeilech ish”, “E foi um homem”, a Bíblia estava evidenciando a coragem de Anrão ao ter um filho com Joquebede, mesmo sabendo do decreto cruel de Faraó para que se matasse todos os meninos que fossem nascidos.
Yehuda Nachshoni, autor do livro Studies in the Weekly Parashah (Estudos nas Parashás Semanais), mantém que a descrição do nascimento de Moisés transmite o fato de que sua origem era humana, e não divina.
A Bíblia enfatiza que o maior líder dos Hebreus era puramente humano:
“um homem da casa de Levi e casou com uma filha de Levi” Êxodo 4:1
Daniel Sperber, professor da Universidade Bar-llan, em Israel, vai um ponto além quando sugere que o texto transmite, na descrição do nascimento de Moisés, as limitações do yichus, “linhagem, descendência ou pedigree”.
Os nomes dos pais de Moisés foram omitidos para enfatizar que a grandeza espiritual não é herdada, passando de pai para filho, mas sim conquistada.
Há também uma série de possibilidades que são levantadas a partir do padrão pouco usual que o texto bíblico usa para descrever a vida desse grande líder do povo de Deus.
Há algumas frases intrigantes que foram registradas desde o nascimento, até o episódio da morte de Moisés, particularmente duas, em que a palavra vayeilech, “e ele foi”, está envolvida.
Cada uma dessas afirmações parece vaga, sem propósito, de forma que passam facilmente despercebidas.
Juntas, porém, elas marcam pontos estratégicos na vida de Moisés, e permitem que a bíblia transmita um notável senso de הליכה halicha, “movimento”, “desenvolvimento”, que esteve presente por toda a trajetória deste homem de Deus.
O contínuo crescimento espiritual de Moisés é representado pelo verbo lalechet, “ir”, que encerra em si todo o significado desta história bíblica.
E este significado se torna mais denso e profundo, à medida que o campáramos com a vida de outro grande patriarca hebreu, Abraão.
O primeiro patriarca, Abraão, é similarmente marcado pelo verbo lalechet, “ir”. No caso de Abraão, este termo é conjugado duas vezes como parte do plano divino, começando pelas palavras Lech lecha, “Vá por você mesmo”:
Não é por coincidência que a Bíblia marca a vida de Abraão e Moisés com o verbo lalechet. As jornadas desses dois personagens envolvem dois maiores períodos da história dos hebreus, a era patriarcal e a era nacional.
O movimento, desenvolvimento e o crescimento espiritual, foram características pioneiras em suas vidas.
Há, porém, duas diferenças importantes entre o “ir” (Lech lecha) de Abraão, e o “ir” (vayeilech) de Moisés:
A era patriarcal, iniciada com Abraão, ocorreu antes da formação de Israel como nação, e foi definida pelas jornadas pessoais dos patriarcas com suas famílias. Aquele foi o tempo da יָחִיד yachid, “unidade absoluta”, do indivíduo.
Depois que o conceito de “indivíduo” foi profundamente introduzido no pensamento hebreu é que se inicia o período do ציבור tzibur, “o público”, ou a era nacional.
A vida de Abraão, como parte do mandamento individual Lech lecha “sai da tua terra, da tua parentela”, aponta para o crescimento e o sucesso individual.
Agora, com o nascimento de Moisés, e com o aparecimento de Israel como nação, sucesso não era mais visto apenas no âmbito pessoal, mas com o senso de comunidade.
Moisés lideraria outras pessoas, e sua liderança emanaria de seu exemplo. Moisés “irá” e outros irão seguir com ele.
Desde o início da era nacional, Deus aguarda pelo homem em dar um passo em sua direção. Uma série de eventos na vida de Moisés, parecem ilustrar essa nova forma de Deus se relacionar com o ser humano:
“E aconteceu naqueles dias que, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos, e atentou para as suas cargas;” Êxodo 2:11
A trajetória de Moisés em rumo a liderança de Israel só começa quando ele, de sua própria vontade, deixa o luxo do palácio de Faraó, para ver o sofrimento dos Israelitas como escravos.
Esse ato voluntário de Moisés, muda não somente toda a sua vida, como também todo o curso da história dos filhos de Israel.
“E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça” Êxodo 3:2-4
Deus não chamou Moisés, até que ele tivesse se voltado para a sarça, para observar o fenômeno de que ela não se consumia. Se Moisés tivesse ignorado a sarça, que não se consumia no fogo, talvez Deus nunca tivesse falado com ele.
“E subiu Moisés a Deus, e o Senhor o chamou do monte” Êxodo 19:3
Quando os Israelitas chegam ao Sinai, o Êxodo claramente diz que Moisés sobe ao monte, e depois Deus o chama com instruções preparatórias a sua revelação a todo o povo.
A expectativa, de qualquer um de nós, era de que Moisés ficasse ao pé do monte, esperando pelo chamado divino.
Mas a mensagem bíblica é muito clara, que a revelação só se iniciou com a iniciativa de Moisés em dar o primeiro passo em direção a Deus.
O evento do nascimento de Moisés, e posteriormente a sua vida, nos transmitem essa crucial mensagem, de que não podemos ficar paralisados, esperando por um sinal de qual seja a vontade divina.
Precisamos tomar iniciativas por meio do estudo, da aplicação e da observância da Lei do Senhor.
Assim poderemos nos manter em movimento, em direção a desenvolver uma parceria com Deus, que por sua vez não deixará de nos orientar como “ir”, uma vez que somos guiados pelo longo caminho do contínuo crescimento espiritual.
Abraão e Moisés tiveram suas vidas marcadas pelo verbo “ir”. Não podemos esquecer que esta também é uma das mais importantes palavras que o nosso Mestre deixou para marcar as nossas vidas:
“E disse-lhes (Jesus): Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15
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