É notório e dramático o diálogo ocorrido entre o jovem rico e Jesus, registrado no livro de Marcos 10:17-31. O texto descreve que um jovem religioso, bom caráter, que possuía muitas propriedades, chega-se diante do Mestre, perguntando sobre como alcançar a vida eterna.
Uma pergunta que diversos rabinos haviam já se arriscado em trazer receitas, prescrições de como fazer para atingir tal redenção.
O rabi João dizia que herdaria a vida eterna, aquele que acrescentasse a Gheulla (oração pela redenção), às outras orações do dia.
O rabi Afon ensinava que era aquele que “honrasse os anciãos”. Já o rabi Eliezer afirmava que era o que “orasse o Salmo 91 três vezes ao dia”.
E Marcos relata que Jesus estava no caminho que ia para Jericó, quando este jovem se aproxima do Mestre. E foi logo reconhecido como um jovem rico. Certamente isto se deu pela qualidade das roupas que usava.
Somente os ricos tinham franjas azuis nas orlas de suas vestes, pois a cor azul era na época caríssima para se produzir, sendo retirada de um molusco.
O jovem rico que seguia as prescrições rabínicas, chega a Jesus com particular saudação “farisaica”, chamando-o de “bom mestre” e se prostrando aos seus pés. Algo que seria muito nobre, se não passasse de uma encenação interessada.
“E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Marcos 10:17
“E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.” Marcos 10:18
“Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.” Marcos 10:19
“Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.” Marcos 10:20
O jovem rico cumpria os mandamentos da lei, mas como que por obrigação. As leis não são suficientes por si mesmas.
As pessoas tem de querer cumpri-las não por causa do medo de alguma punição, mas devem seguir a lei por escolha própria, por amor, porque são livres para fazê-lo.
Se fizerem isso, serão realmente livres. Ao contrário, continuarão escravos do medo, da culpa e da religião.
A lei dada por Deus ao povo de Israel, não deveria ser um peso, mas uma benção. A verdadeira interpretação da lei era boa.
Mas pra ele, os mandamentos tornaram-se apenas em rituais religiosos, que eram executados com a frieza de uma prescrição rabínica.
Ele não enxergava a liberdade de escolher fazer o bem, mas a sua prática era vazia, sem calor, sem paixão, sem a ardente alegria no coração daqueles se compadecem do próximo e que amam fazer o bem.
A prática mecanicista da lei não tem o poder de salvar, mas leva frequentemente à religiosidade extremada, meticulosa e detalhista, como acontecia com os fariseus e demais seitas judaicas da época.
Jesus queria mostrar o quanto aquele moço vinha enganando a si mesmo. Este Jovem tentava se auto-justificar com suas obras. Ele queria se convencer que atendia aos preceitos mais altos que a lei exigia, e que por isso, mereceria a vida eterna.
Por isso o jovem rico vem a Jesus, cheio de sua própria justiça, querendo ouvir algo que lhe confirmasse a sua sensação de pureza própria, conquistada por seus próprios méritos.
Jesus o ouve, e vê o quanto aquela alma estava iludida. E o Mestre se compadece dele. O coração de Jesus é tomado por um enorme sentimento de ternura e amor por aquele Jovem. Jesus o amou!
“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” Marcos 10:21
Tão linda é esta afirmação de Marcos: “E Jesus, olhando para ele, o amou…” . O Mestre queria fazê-lo entender que o evangelho falava de uma paz, de uma liberdade de escolher amar a verdade.
Que a lei era baseada na prática do amor, não invocando méritos e pseudo santidades, mas entendendo a que não existe santidade maior do que se chegar a Deus reconhecendo o quão imperfeitos somos.
“Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.”
Salmos 51:5
Jesus em seu profundo amor, queria ensinar ao moço que o maior tesouro da vida é de valor imensurável. O capital do evangelho é imponderável, é amor, é paz, é misericórdia. E mexe com as bases da alma. Trabalha na estrutura do “ser”.
De forma que o homem transformado pelo poder do evangelho, escolhe livremente a prática do bem, não por medo, nem por prescrições religiosas, mas simplesmente pelo sentimento de profundo amor, pela realização da volta à casa do Pai celeste, pelo reencontro com aquele que é o autor da vida.
Pela gratidão que vem ao se entender o grande perdão recebido, imerecidamente, sem o esforço e as cargas que os líderes religiosos faziam recair sobre os praticantes do judaísmo.
Jesus falava de uma transformação do coração, que leva o ser humano a transbordar em amorosa alegria, que nos faz jubiloso realizar as boas obras.
Mas as obras frias da religiosidade minuciosa da lei, cujo aquele moço vinha praticando, eram insuficientes para que o salvassem. Por mais que este Jovem tentasse enganar a si mesmo, um dia tudo isso pesou.
O Jovem Rico talvez nem tivesse mais consciência do quanto era escravo das riquezas que a este ponto já o possuíam.
Ele fazia uma tentativa de compensar sua consciência impondo a si mesmo uma vida de cumprimento de obrigações religiosas.
Mas o Mestre faz com que ele refletisse, e enxergasse a verdade que havia no seu coração, aquilo que ele realmente valorizava, o que de verdade ele amava na sua vida, os bens materiais que conquistara.
“Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” Marcos 10:21
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.” Marcos 10:22
O Mestre então se expressa com um lamento. Jesus o amava tanto, que sentia uma enorme dor por aquele jovem ter escolhido tão sombrio caminho que conduz à perdição.
“Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Marcos 10:23
Os discípulos de Jesus se admiram com estas palavras. Isso porque eles sempre foram ensinados pelos religiosos, de que o sinal da benção de Deus era o acúmulode riquezas.
Mas agora vêem que o Mestre alerta para o risco de se deixar dominar pelos bens deste mundo.
É a mudança de estereótipos que o conhecimento do evangelho traz. É a verdade, a luz fazendo com que as trevas sejam reveladas.
“E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!” Marcos 10:24
“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.” Marcos 10:25
Os discípulos ficam ainda mais espantados com essa explicação de Jesus. É impossível imaginar o camelo, o maior dos animais domésticos da Judeia e Samaria, passando pelo minúsculo orifício de uma agulha.
Tão estranho é esta comparação, que os antigos comentaristas do novo testamento tentaram uma nova interpretação para torná-la mais adequada aos pensamentos humanos, inventando uma fantasiosa porta em Jerusalém, estreita e reservada aos camelos.
Jesus alertava enfaticamente para o perigo daqueles que se apegam aos bens materiais e depositam neles a sua razão de viver.
Hoje Jesus ainda lamenta, que muitos escolhem continuar na escravidão do pecado. O Mestre está com o coração inundado de amor por essas almas perdidas.
Ele deseja tanto libertá-los e salvá-los, fazê-los herdeiros de riquezas que não terão fim, possuir a vida eterna!
Mas é preciso se desprender de tudo, para herdar este tesouro celeste. Há a necessidade de se mudar as prioridades da nossa vida. O amor a Deus e ao próximo devem vir em primeiro lugar.
Do que servem os bens materiais, senão para facilitar a vida humana de nós mesmos e dos que estão próximos? O desejo de Deus é que compartilhemos, e que abençoemos o nossos irmãos.
Mas muitos seguem em um egoísmo, acumulando bens, propriedades, contas bancárias milionárias, dinheiro que não se pode gastar nem em duas vidas. Mas se hoje for a hora de partir deste corpo, tudo ficará para trás.
Nada se pode levar deste mundo. Mas a oportunidade de espalhar misericórdia e graça, fica perdida.
É melhor viver e acreditar na graça e fazer graça de Deus a todos quanto for possível. As prioridades tem que ser mudadas.
“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33
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Veja comentários
Parabéns pelo estudo. Me tira umas dúvidas: A primeira é que alguns dizem ser não um camelo e sim uma corda no fundo de uma agulha um tipo de corda que era difícil de entrar na agulha tipo uma linha de costura que nós usamos hoje e que é "muito difícil" de entrar na agulha. A segunda é: Marcos cita um homem rico e Mateus um jovem rico. Seria de fato um jovem mesmo? Porque ele diz desde a minha mocidade, se referindo a um passado em que ele era jovem! Obrigado! Shalom! Boker Tov!
Amei! Bem esclarecedor! Entre tudo, eu estava sem entender: e "Jesus o amou"
Bom demais esse estudo. Citou tópicos importantes da época. Minucioso e detalhista. Parabéns! Que Deus abençoe abundantemente.
Excelente, muito bem explanado e bem esclarecedor, Deus continue abençoando.
Maravilhoso esse estudo! Deus te abençoe sempre
Que esclarecimento lindo amei forte demais. Que o Senhor continue lhe abençoando.
Deus o abençoe poderosamente, e continue lhe dando sabedoria para o esclarecimento da palavra de Deus!!!